Novo filme do Coringa? Tá. E daí?

Vem aí a continuação da história do Palhaço do Crime com uma nova Arlequina
O filme “Coringa”, de 2019, causou rebuliço. Trouxe um Oscar de melhor ator e outros prêmios para Joaquin Phoenix (todos merecidos, diga-se), mais uma penca de premiações em categorias como trilha sonora, elenco, etc..
Para aqueles que consideram que as premiações conferem um selo de qualidade e seriedade para uma obra, isso é o ápice e é incontestável.
Já vi muitos filmes excelentes que não ganharam o Oscar. Assim como atrizes e atores fantásticos que nunca levaram a estatueta. Por isso, espertamente, Hollywood inventou os Oscar honorários, “por conjunto da obra”. Perceberam?
Mas não é esse o ponto. Minha crítica ao filme do “Coringa” e sua continuação é simplesmente pelo personagem principal.
Quem é o Coringa?
O Coringa é o principal inimigo do Batman. Da sua estreia dos quadrinhos até hoje, ele foi de tudo. Ele foi um vilão cheio de piadas engraçadinhas, vestiu calção e surfou na série do Batman de 1966, protagonizou sua própria revista, até chegar na sua fama de psicopata mortal, a qual mantém até hoje.
O que ele nunca deixou de ser? Vilão. O Coringa é um vilão. Um vilão do Batman. Marcante, o maior antagonista, mas um vilão…do Batman.
O filme, assim como vários quadrinhos que tentaram mostrar a história de origem do personagem, procura explicar o porque esse vilão é um psicopata. Essas obras tentam fazer uma análise psicológica do que poderia ter levado um homem a ultrapassar o “limite” da sua sanidade.
Se estivéssemos interessados numa palestra de psicologia, seria interessante.
Mas estamos falando de quadrinhos, filmes e seriados. Ou seja, tudo seria interessante se não fosse um “pequeno” problema: não há Coringa sem o Batman.
Podem fazer 350 filmes do Coringa, de caráter ‘inteligente”, “descolado”, com um elenco estelar, que vai angariar outros 350 prêmios e inflar o orgulho de fãs.
Porém nenhuma história do Coringa se sustentará sem que se faça a pergunta inevitável: cadê o Batman?
A história do Coringa pode ser intrigante, pode-se até entender o estopim de sua loucura e deixar-se levar pela narrativa.
Mas chegará uma hora na qual a psicopatia do personagem causará incômodo. Se os roteiristas seguirem à risca a trajetória do personagem, devem ocorrer assassinatos a rodo, sadismo, crueldade e matanças sem sentido algum. O Coringa não é um anti-herói, daqueles que desculpamos e até aceitamos que sejam violentos. Ele é um vilão psicopata.
Será inevitável o espectador se perguntar: isso não vai parar? Onde está o Batman?
Não há como separar Batman e Coringa em universos diferentes. Por mais que o estúdio queira lucrar, por mais que o diretor queira ser “autoral”, por mais que o roteirista queira ser “cabeça”, vai chegar um momento no qual a história (em todos os sentidos) falará mais alto.
A nova Arlequina (vivida pela Lady Gaga) poderá ser excelente, Joaquin Phoenix poderá ser brilhante como sempre, os fãs mais exaltados defenderão a seriedade da obra, muita gente vai analisar o filme do ponto de vista sociológico e filosófico. Faz parte.
Por isso, para mim, o Coringa nada mais é do que um vilão do Batman. E vilões não vivem sem heróis.
E mais: vilões devem ser derrotados no final.
Por isso, qual a minha empolgação com um filme do Coringa? Zero.
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