O verniz que a TV Cultura conseguiu riscar

Quando falamos da TV Cultura, o que vem à sua memória? Doug? O Pequeno Urso? Caillou? Ou programas como Castelo Rá-Tim-Bum, O Mundo de Beakman e Um Menino Muito Maluquinho?
Bateu uma nostalgia enquanto lia os títulos? Esse é um dos pontos desta coluna de hoje.
Confesso que pesquisei bastante antes de dissertar aqui. Como cientista, gosto de me basear em artigos para ter referências.
Tudo começou com um vídeo que assisti nas redes sociais, que falava sobre a paleta de cores utilizada em animações antigas — algo que vemos menos nas produções de hoje. Outro vídeo comentava sobre as chamadas animações de “baixo estímulo”, que têm um ritmo menos acelerado e, por isso, não interferem negativamente na fase de aprendizado infantil. Fui buscar artigos científicos que abordassem isso e… me frustrei. Não encontrei nada muito palpável que eu pudesse trazer aqui para vocês.
Em contrapartida, encontrei artigos que descreveram bem a minha sensação ao assistir à Cultura nos anos 90. Eu queria que houvesse alguma explicação para isso. E achei dois textos interessantes: um sobre nostalgia, e outro sobre séries de conforto.
Imagine: uma tarde nos anos 90, você sentado na sala assistindo TV e se depara com bolinhos de chuva e achocolatado enquanto passa O Pequeno Urso. A leveza daquela história combinada com as possíveis paletas de cores citadas pelos amigos da rede ao lado. Ou então aquele momento em que as irreverentes músicas do Castelo Rá-Tim-Bum tocavam pela casa: “Você vai ver, fazendo tudo com carinho, vai acontecer!”… e do nada você descobre como é feito o macarrão. Kkkkk.
A nostalgia traz isso. A professora de psicologia e PhD Krystine Batcho diz que a nostalgia é um sentimento agridoce: doce porque nos lembra nossos melhores momentos, e amarga porque sabemos que nunca vamos recuperá-los. Ela ainda afirma que não somos mais os mesmos de quando tínhamos três anos. E a nostalgia nos lembra quem fomos.
Isso foi lindo — e um soco no estômago ao mesmo tempo. Aquelas tardes assistindo Doug, Costelinha, Patti Maionese e Skeeter nunca voltarão.
Pois é. Ainda triste pela sensação de não conseguir voltar a ser o eu de anos atrás, fui descobrir por que ainda é tão confortante reassistir ao arsenal da Cultura.
Um artigo do jornal indiano The Times of India disse que há liberação de dopamina quando reassistimos séries de conforto. Eis a explicação que o biólogo aqui precisava. Beakman estaria orgulhoso de mim nesse momento ciência… kkkkk. Quando assistimos algo já conhecido, temos essa sensação de “cobertor quentinho”. Diferente do que acontece quando rolamos os streamings, o que nos leva à fadiga de decisão e ao anseio por estabilidade emocional.
Lendo tudo isso, percebi que a TV Cultura revive esses sentimentos em mim. Acredito que em você também. Diante das programações ruins dos canais abertos, coloco a Cultura em evidência. Como diz a música Rato, do Palavra Cantada: “Mas sempre tem um que é diferente, tem sempre um que até surpreende a gente…”
Foi muito bom ter assistido à TV Cultura na minha infância. Realmente, riscou o verniz. Agora vou desfrutar um pouco do que me resta de férias ouvindo músicas que tocaram nesse canal!
Saúde!
Links das pesquisas: https://www.apa.org/news/podcasts/speaking-of-psychology/nostalgia